Sodexo On-site

Por Lilian Rauld*

No mês do orgulho LGBT+, crescem os debates sobre a importância da inclusão desse público no mercado de trabalho. É consenso, entretanto, que a inclusão de transgêneros e travestis no mercado de trabalho ainda é o maior desafio e o assunto precisa ser debatido em um aspecto mais amplo. Todas as formas de discriminação em nossa sociedade - como homofobia, transfobia, lesbofobia, bifobia, sexismo, xenofobia e até o racismo - estão interconectadas, muitas vezes, ao desconhecimento e preconceito, que impactam negativamente na luta pela ampliação da diversidade e das práticas que devem ser aplicadas pelas empresas em todas as etapas do mercado de trabalho, desde o processo seletivo até a integração no ambiente corporativo.

E esse impacto não é apenas no âmbito privado, já que a maioria das políticas públicas no Brasil direcionadas à população transgênero são voltadas à prevenção de doenças e ao combate à exploração sexual, deixando de lado as políticas de inclusão na educação e no trabalho. Isso é visível quando observamos, por exemplo, um estudo realizado pela ONG Transgender Europe, que cita a relação direta entre os altos índices de violência contra transsexuais no Brasil e na América Latina e a exclusão desse grupo do mercado de trabalho formal.

Assim, a falta de oportunidade nos estudos e a informalidade no trabalho, limita as alternativas para esse grupo. De acordo com uma pesquisa realizada pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), com base em dados colhidos nas diversas regionais da entidade, 90% das pessoas trans recorrem à prostituição ao menos em algum momento da vida. Diante desses números, nota-se que a marginalização de transgêneros ainda é ampla e que não cessará enquanto não houver uma frente ampla de discussão sobre o papel das companhias diante desses números.

Soma-se a tudo isso o fato de que a expectativa de vida para travestis e transsexuais no Brasil - o país que mais mata essa população por transfobia - é de apenas 35 anos. De acordo com estudo realizado pelo TransRespect em 72 países, o Brasil foi responsável por quase 40% dos 2.600 assassinatos em todo o mundo nos últimos dez anos.

Essa realidade se reflete também no mercado de trabalho e, infelizmente, muitas vezes estimula o preconceito que surge pela desinformação, o que influencia as decisões de líderes, que ficam menos propensos a contratar uma pessoa trans. Isso mostra que falar sobre o papel das empresas e lideranças neste cenário é mais do que urgente: é mandatório. Afinal, diversidade e inclusão são palavras bonitas, impactantes e despertam esperança na comunidade LGBT+, mas não podem andar desacompanhadas de ações concretas.

Para as empresas, antes de simplesmente considerar candidatos transsexuais para suas vagas, é preciso implementar políticas claras de inclusão, debates sobre o tema entre colaboradores e comunicação transparente. O conceito de diversidade no mercado de trabalho é uma realidade imutável. Já a inclusão, um termo de aplicabilidade ainda rara no ambiente corporativo brasileiro, é uma escolha, que significa integrar minorias de fato, com amplo e irrestrito acesso aos debates, posicionamentos e benefícios.

Por isso, como profissional, tenho orgulho de liderar a área de Diversidade e Inclusão em uma empresa que engloba essas diferenças e oferece um ambiente inclusivo. Na Sodexo, não temos apenas iniciativas internas, mas um núcleo dedicado integralmente ao estudo, análise e implementação de processos em prol da inclusão e, com cinco focos de atuação: gênero, gerações, cultura e origens, pessoas com deficiência e orientação sexual e identidade de gênero. Temos trabalhado incisivamente para promover a inclusão, não só no âmbito profissional, mas visando outras áreas que compõem a sociedade. Assinamos em 2017 a Carta de Adesão ao Fórum de Empresas e Direitos LGBT e fomos reconhecidos como uma empresa que valoriza a importância deste tema, recebendo o Selo de Direitos Humanos e Diversidade, concebido pela Prefeitura de São Paulo.

É emocionante quando vejo que os colaboradores têm esse sentimento de pertencimento. As demonstrações de reconhecimento e agradecimento quando veem que inclusão não é apenas uma expressão bonita, mas sim um conjunto de ações que torna perenes e concretos os propósitos de inserção da comunidade LGBT+, fazem com que cada vez mais trabalhemos para trazer ao mercado de trabalho ambientes mais diversos, plurais e receptivos. Nos banheiros dos escritórios, por exemplo, há uma placa fora e dentro de cada toilette (mulher e homem), com a frase "este banheiro é para todos os homens, mais importante que o seu reflexo é como você se vê” e “este banheiro é para todas as mulheres, mais importante que o seu reflexo é como você se vê”. Quando oferecemos a opção de escolha, abrimos espaços para que todos se sintam incluídos e respeitados, e garantimos o reconhecimento da identidade de gênero e o direito de utilizar o banheiro que as pessoas se sintam à vontade. É uma ação simples, mas que tem grande impacto na forma como todos veem seu papel na companhia.

Como parte deste ambiente inclusivo, e em comemoração ao mês do Orgulho LGBTI+ (junho), realizamos uma campanha interna, que entre outras ações, inclui a instalação de adesivos nos espelhos dos banheiros de todos os nossos escritórios, promovendo o respeito e a inclusão. Estes têm como intuito dar segurança jurídica e visibilidade ao direito das pessoas de usar o banheiro conforme sua identidade de gênero auto reconhecida, combatendo assim a discriminação e preconceitos dentro da empresa, promovendo o princípio de igualdade profissional em todos os níveis da organização. Os adesivos contam com um QR Code que leva à página na Sodexo_Net que explica todos os termos neles utilizados.

Esses reconhecimentos são importantes para nossa empresa, mas ainda mais relevantes para os mais de 50 colaboradores transgênero que atuam na Sodexo. Inspirar outras empresas a adotar práticas e políticas de inclusão também faz parte do nosso papel de transformar a sociedade em um ambiente múltiplo e plural. Mais do que trabalhar para dar oportunidades iguais a pessoas da comunidade LGBT+, devemos incentivar a luta diária pela eliminação da violência, do preconceito e da intolerância. O sentimento de pertencimento e respeito é um direito de todos e deve estar aliado ao desenvolvimento profissional e pessoal dos LGBT+, especialmente de travestis e transsexuais. Precisamos nos unir para transformar essa triste realidade e alcançar uma sociedade mais justa, onde haja respeito entre todos. Cada um de nós tem um importante papel nessa construção.

Lilian Rauld é head de Diversidade e Inclusão da Sodexo On-site Brasil e coautora do livro "Inserção do Talento e da Força de Trabalho de Profissionais Refugiados nas Organizações Brasileiras"

¹The Lancet, HIV/AIDS, human rights, and transgender people in Latin America. https://www.thelancet.com/journals/lanpub/article/PIIS2468-2667(19)30082-9/fulltext

²Associação Nacional de Travestis e Transsexuais, 2020. https://antrabrasil.org/2020/05/03/assassinatos-de-pessoas-trans-voltam-a-subir-em-2020/

³Transrespect: The vicious circle of violence: Trans and gender-diverse people, migration, and sex work. https://transrespect.org/wp-content/uploads/2018/01/TvT-PS-Vol16-2017.pdf

 

Voltar à lista
Fale Conosco! Compartilhamento aberto e outras ações