Quem vai pagar a conta do desperdício?
Estou convencida de que o desperdício de alimentos é um dos problemas mais alarmantes da atualidade, especialmente num cenário com mudanças climáticas e recursos naturais limitados. Estima-se que cerca de um terço de toda a comida produzida no mundo é desperdiçada, causando tanto prejuízos econômicos quanto impactos ambientais profundos. Esse desperdício ocorre em todas as etapas da cadeia de produção, desde o cultivo até o consumo.
As perdas envolvem falhas no armazenamento, transporte ineficaz, práticas inadequadas de manuseio e, no final da cadeia, a falta de consciência sobre o desperdício por parte das empresas de foodservice e dos próprios consumidores. Esse problema atinge vidas e comunidades ao redor do mundo, e, por isso, acredito que é essencial mitigá-lo para construirmos um futuro melhor.
Cada vez que um alimento é descartado, todos os recursos utilizados em sua produção também se perdem. Isso só aumenta a pressão sobre o meio ambiente e ameaça a sustentabilidade do nosso sistema alimentar. Por isso, acredito que as empresas do setor alimentício têm um papel fundamental nesse processo, pois possuem o poder de influenciar e transformar práticas ao longo de toda a cadeia de produção. A Sodexo, por exemplo, monitora o desperdício de alimentos em tempo real, o que permite uma resposta imediata para reduzir perdas.
Ao usar tecnologia para otimizar a gestão de resíduos e priorizar ingredientes sazonais, reforçamos nosso compromisso com práticas de baixo impacto ambiental. Além disso, valorizamos a compra de alimentos de produtores locais, o que reduz a pegada de carbono associada ao transporte e promove uma economia mais justa e resiliente.
Para mim, essas práticas não só exemplificam o que pode ser feito, mas também servem como inspiração para que outras empresas adotem estratégias semelhantes. Vejo que o movimento em direção à alimentação sustentável não é apenas uma resposta às demandas ambientais; é também uma tendência crescente entre os consumidores, que estão cada vez mais atentos ao impacto de suas escolhas alimentares.
Na Sodexo, por exemplo, nos comprometemos a garantir que, até 2030, 70% dos nossos pratos principais sejam de baixo carbono, refletindo essa tendência e atendendo à demanda dos consumidores por opções mais sustentáveis. Uma pesquisa¹ recente revelou que 90% dos brasileiros acreditam que uma alimentação sustentável é essencial para o futuro, reforçando, na minha visão, a importância de que as empresas ofereçam soluções que estejam em sintonia com essa consciência crescente.
Com uma população em crescimento e desafios cada vez mais complexos para garantir a segurança alimentar, acredito que a sustentabilidade não é mais um diferencial, mas um padrão necessário. No Brasil, um país com grande potencial para liderar essa transformação, adotar práticas agrícolas sustentáveis e reduzir o desperdício de alimentos pode fazer do país um exemplo global de economia circular e sustentável.
As empresas devem se perguntar: estamos realmente fazendo o suficiente em relação ao desperdício e à sustentabilidade? A transformação para um sistema alimentar sustentável exige ações concretas e imediatas. Medidas audaciosas e proativas são necessárias, assim como o compromisso de educar as pessoas sobre a importância de escolhas conscientes. Para mim, o futuro da alimentação não depende apenas de uma produção mais eficiente, mas também de um consumo mais consciente e responsável.
A responsabilidade das empresas vai além do cumprimento de normas e regulamentações, elas devem se tornar verdadeiras líderes e catalisadoras da mudança. Em um mundo que enfrenta crises ambientais sem precedentes, acredito que cada decisão de compra, cada refeição preparada, tem o potencial de fortalecer comunidades e promover um estilo de vida mais equilibrado e harmônico com o meio ambiente.
A hora de agir é agora. As empresas têm o poder de transformar seus ecossistemas, impactando toda a cadeia. Neste cenário, o futuro depende da disposição de cada uma em adotar práticas sustentáveis. Seremos protagonistas ou coadjuvantes nessa urgente transformação? A decisão é individual, mas o impacto será sempre coletivo.
Andrea Krewer é CEO da Sodexo Brasil
¹Pesquisa “Food Barometer”, realizada pela Sodexo em parceria com a Harris Interactive.
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