imagens de mãos negras fechadas com símbolo dos black phanters

“Espero que minha equipe olhe para mim e pense: ‘Eu posso também’”

Published on : 21-11-2022
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  • Luana Misael, gerente de Contas Estratégicas na Sodexo, fala na editoria Nossa Gente da sua trajetória na empresa e ressalta a necessidade do mercado de trabalho em abrir mais oportunidades a pessoas negras dentro do ambiente corporativo.

    “No começo eu não sabia como seria estar no ambiente corporativo. Se eu poderia usar trança como estou usando agora. As pessoas que me cercam e com a minha liderança direta eu posso ser eu mesma. Não preciso ser outra pessoa ou ter o cabelo que a sociedade gostaria que eu tivesse para que eu consiga trabalhar. E eu fico muito feliz." diz Luana Misael

    Desde o dia que eu pisei aqui na Sodexo, não senti nenhum tipo de discriminação, nenhum tipo de olhar diferente. Eu não sou tendenciosa a prestar atenção, mas quando estamos nesse lugar, a gente percebe. Sabemos quando algum comentário é desagradável, mesmo que a pessoa não tenha intenção. Do tipo: 'Ah, nossa, essa camisa é chique'. E às vezes são incômodos que a sociedade acaba trazendo porque não está acostumada a ver uma pessoa negra utilizar tal marca ou estar em tal posição.

    Eu, Luana, me sinto muito bem em poder trabalhar aqui. Até porque eu sempre tive uma criação em que minha mãe nos ensinou a nos posicionar referente a qualquer tipo de racismo ou comentário. Tive uma educação que me ensinou a não ter medo. Mas, infelizmente, na nossa história, muitos de nós foram criados a ter medo, a não responder, a abaixar a cabeça quando uma pessoa de pele branca fala. A minha mãe sempre colocou: 'Você é linda, sua pele é maravilhosa e seu cabelo é o melhor do mundo'.

    Apesar de a sociedade acabar ditando outro padrão de beleza, eu nunca deixei isso ser maior do que realmente sou. Obviamente já sofremos racismo, alguém que considerávamos amigos ao amigas nos desprezou, ou um relacionamento não seguiu em frente por causa da cor de pele, porém isso nunca foi maior do que aquilo que eu acredito que sou como pessoa.

    Tive um privilégio que a grande maioria das pessoas do nosso País não tem, que é estudar em colégio particular. Sei que isso é uma vantagem enorme perante a nossa sociedade. A maioria das pessoas negras estão em estado vulnerável, moram em locais insalubres, estão expostas a todo tipo de riscos e eu não passei por isso. Sei que tive uma educação diferente e privilegiada. Minha mãe dizia que se na escola alguém me chamasse por um apelido que eu não achasse que era honroso para mim, que era para eu pedir para me chamar pelo meu nome e não deixar passar.

    Lembro de mim e de mais duas pessoas negras na escola e elas tinham uma postura totalmente diferente. Então é natural que, quando existe uma criação que te mostra o seu valor e não o que a sociedade impõe, que isso facilite para a gente a conseguir lidar no dia a dia e no trabalho.

    Meu desejo pessoal é ver cada vez mais pessoas pretas assumindo cargos e tendo mais oportunidades.

    Lideranças possíveis

    Minha expectativa ao entrar em uma reunião de diretoria é encontrar cada vez mais pessoas negras nessa posição, não somente em posições operacionais. Entendo que, hoje, o meu papel como liderança é tentar ter esse olhar e exercer influência. Se eu vou selecionar cinco aprendizes, procuro garantir que pelo menos dois sejam pessoas pretas, para que todos tenham oportunidades. Me sinto responsável por puxar a inclusão pela posição que ocupo.

    Muitos de nós, historicamente, foram ensinados a considerarem que posições de grande relevância não eram para a gente, que nosso lugar era o que sobrava ou sempre o trabalho operacional. Espero que a minha equipe me olhe e pense 'eu posso também'. Entendi que tenho uma responsabilidade muito maior, não só de falar e cobrar, mas de ajudar de acordo com as minhas possibilidades.

    Entrei na Sodexo em 2013, como auxiliar administrativo. Em 2014, recebi uma promoção para assistente administrativo e, em 2015, me tornei analista administrativo, quando comecei a participar de alguns treinamentos e processos de crescimento. Em 2016, recebi minha promoção como gerente de Unidade Operacional. Foi o meu primeiro cargo de liderança mesmo, porque até então os demais eram de suporte aos gestores.

    Fui aprendendo e tendo oportunidades dentro da Sodexo e, em 2021, me tornei gerente de Grande Contrato. E estou nessa posição desde então. Estamos falando de nove anos de empresa. Eu gosto muito de trabalhar na Sodexo. Na maior parte dessa jornada contei com lideranças, pessoas incríveis trabalhando comigo, me dando suporte, me motivando e me ensinando.

    Hoje, sou muito grata realmente pelas oportunidades que a empresa gerou. Tem o nosso trabalho, obviamente, mas também eu entendo que a minha liderança direta tem essa visão de dar oportunidades e acreditar que as pessoas possam assumir novas responsabilidades e novos desafios”.