Artigo: Ana Menegotto, Vice-presidente de Recursos Humanos da Sodexo On-site Brasil.

Você já parou para pensar no impacto causado pela violência contra as mulheres? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada três mulheres no mundo já sofreu violência física e/ou sexual, muitas vezes vítimas de seus próprios parceiros. Essa realidade começa nas fronteiras domésticas e interfere nos espaços de trabalho, afetando a trajetória de milhões de profissionais, que têm suas carreiras impactadas por enfrentar esses desafios.

Como mulher e profissional que atua há mais de 20 anos no desenvolvimento de pessoas, enxergo o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres como um convite à reflexão sobre um sintoma social e cultural do qual todos nós somos responsáveis. Em nossas operações no país todo, na Sodexo, contamos com uma força de trabalho 67% feminina e vivenciamos o impacto da violência manifestada no dia a dia, trazendo consequências diretas à dinâmica e a saúde das nossas equipes. Mudar esta realidade é urgente, uma prioridade da qual não abrimos mão.

Como parte da solução, temos trabalhado para construir ambientes de trabalho seguros, inclusivos e empáticos, com políticas que preveem uma abordagem abrangente para combater a violência doméstica, desde a prevenção até o apoio às vítimas. Desenvolvemos campanhas de conscientização e disponibilizamos diversas ferramentas de apoio.

Programas como o “Fadas Madrinhas”, no Brasil, permitem que os casos sejam denunciados por mensagens por código via WhatsApp ou SMS, recebidas por colaboradores voluntários capacitados legal e psicologicamente, que dialogam e acompanham as vítimas durante todo o tratamento da queixa. Desde sua criação em 2020, período da pandemia quando se agravaram os casos de violência, o programa já salvou cinco mulheres em risco iminente de morte e apoiou mais de 100 outras.

Diante do conhecido ditado de que em briga de marido e mulher não se mete a colher, esses resultados reforçam a nossa crença de que todos nós temos a obrigação e a responsabilidade sim de “meter a colher” e proteger as mulheres. Ao longo desses últimos anos em que acompanhei o desempenho e o desenvolvimento de mulheres nas empresas, posso afirmar que o problema da violência de gênero pode estar bem mais próximo do que imaginamos. Essa triste realidade está entranhada em todas as camadas de nossa sociedade. As organizações têm o potencial para criar redes de segurança para suas equipes e temos convicção de que a conscientização e o suporte acabam se reverberando para outras esferas, protegendo familiares, amigas, vizinhas e a comunidade. Em um país que ocupa o quinto lugar no ranking global de feminicídios, não podemos ser meros espectadores.

Acredito que iniciativas como esta são facilmente replicáveis e podem inspirar outras companhias que buscam colocar luz à invisibilidade dessas mulheres, vítimas de diversos tipos de violência em seus próprios lares, que muitas vezes não conseguem sair sozinhas desse ciclo. E não me refiro apenas a ações isoladas da área de Recursos Humanos. Ao capacitar nossos gestores, oferecer linhas de apoio e conhecer e reconhecer as vozes das vítimas, estamos construindo um terreno sólido para uma cultura de equidade e inclusão. Esta é uma jornada longa e não pode ser solitária. Precisamos do engajamento de toda a sociedade na direção de uma mudança significativa, que nos impulsione para um futuro em que a violência contra as mulheres seja uma página virada e onde, viver, crescer e prosperar em suas carreiras (longe de ameaças e livres do medo), seja algo real e tangível a todas.

*Artigo publicado primeiramente no site da RH Pra Você: https://rhpravoce.com.br/colab/violencia-contra-a-mulher-meter-a-colher-e-salvar-vidas/

 

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